Augusto de Vasconcelos, a rua do senador

AUGUSTO DE VASCONCELOS, A RUA DO SENADOR

Por André Luis Mansur

A Rua Augusto de Vasconcelos é uma das principais do centro de Campo Grande, paralela à Rua Coronel Agostinho (o calçadão) e ligando a Avenida Cesário de Melo, que fazia parte da antiga Estrada Real de Santa Cruz, até a linha de trem, na Praça Raul Boaventura. Se antes ela se chamava Rua da Estação, uma referência à estação de trem, há muito tempo ela homenageia um politico dos mais importantes da Primeira República.

Nascido em 5 de abril de 1853, filho de fazendeiros da antiga Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande, Augusto de Vasconcelos chegou a senador, tendo uma atuação intensa na política da então capital do Brasil, principalmente entre os anos de 1906 e 1915. Campo Grande fazia parte da região conhecida politicamente como Triângulo, abrangendo ainda Guaratiba e Santa Cruz, sendo representada por políticos como Otacílio Camará, Júlio Cesário de Melo, Felipe Cardoso, Raul Capelo Barrozo e o próprio Augusto de Vasconcelos, entre outros.

Vasconcelos se formou pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e, ainda no Império, já filiado ao Partido Liberal, trabalhou como Delegado de Higiene, mas é na República que ele começa a se destacar na vida pública, assumindo o seu primeiro mandato parlamentar em 1892, como Intendente Municipal pelo Distrito de Campo Grande, sendo o mais votado naquela eleição. Depois chegaria a deputado federal e, por fim, a senador, mas sempre mantendo uma atuação voltada para a política local, o chamado localismo.

O jornalista e político José do Patrocínio, crítico feroz do grupo de Vasconcelos, atacava sempre os políticos do Triângulo através do seu jornal, Cidade do Rio, no qual acusava Vasconcelos e outros políticos da região de fraudes eleitorais e práticas políticas ilícitas. Dizia que Vasconcelos tinha relações suspeitas com o Matadouro de Santa Cruz e o chamava, pejorativamente, de Doutor Rapadura, em alusão às origens rurais de sua família. 

Uma das críticas de José do Patrocínio e de outros jornalistas e políticos era a prática do que se chamou de “clientelismo de transição”, exercido pelos políticos do Triângulo e que consistia numa intermediação entre os serviços públicos e a população.

“Ao lado dos patronos tradicionais, cuja sobrevivência amiúde passa pela sua conversão ao papel de intermediários entre o centro e a periferia, surgem novos mediadores especializados (notários, médicos e professores…). O vínculo de patrocinato faz-se mais instável e pragmático (e, portanto, menos intenso) do que no passado, embora nele se conservem a personalização e algum conteúdo moral” (LOPES, Fernando Farelo. Poder político e caciquismo na Primeira República portuguesa. Lisboa: Editorial Estampa, 1993).

Já Marcos Veneu, “ao lidar com aspectos constitutivos da política carioca, propõe examinar a atuação de Vasconcelos e de seu grupo como práticas assemelhadas ao chamado modelo coronelista, entendido pelo autor como marcado pelas relações de dependência pessoal entre o grande proprietário e seus ´protegidos´”. (VENEU, Marcos. Enferrujando o sonho: partidos e eleições no Rio de Janeiro, 1889-1895. Dados, Rio de Janeiro, vol. 30, n.1.

Seja como for, o grupo político do Triângulo vai cada vez mais aumentar a sua força e Vasconcelos, apesar de uma atuação política de destaque na Republica, nunca escondeu que era um monarquista. “Aceitei a República e a ela tenho servido com dedicação e lealdade. O que não posso é, adotando a República, dizer publicamente que sou republicano, e nos meus atos manifestar-me inteiramente contrário a ela. É isto que não posso fazer nem faço”. (Anais do Conselho Municipal, sessão de 5 de abril de 1893)              

Augusto Vasconcelos morreu em 10 de dezembro de 1915, quando ainda era senador pelo Partido Republicano Conservador (PRC), no auge da vida pública. Foi casado com Maria Freire de Vasconcelos, sobrinha do grande botânico campograndense Freire Alemão. Além da rua no centro de Campo Grande, Augusto Vasconcelos dá nome à estação de trem vizinha ao bairro.

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