[Artigo] Odir Ramos

Odir Ramos

Por André Luis Mansur

Nascido na cidade fluminense de Rio Bonito, em 1936, Odir Ramos da Costa é um dos grandes nomes da cultura em Campo Grande, bairro carioca onde morou até a sua morte, em abril deste ano. Autor de peças de teatro, contos, crônicas e romances. Teve também grande experiência em jornais e na direção de teatros, como o Armando Gonzaga, em Marechal Hermes, e o Artur Azevedo, em Campo Grande, onde fez um excelente trabalho na década de 70, quando o teatro recebeu grandes nomes da MPB.

Odir escreveu livros de alta qualidade, como “Buquê para Faceira” (cujo conto que dá título à obra recebeu Menção Honrosa da Rádio França Internacional no concurso “Guimarães Rosa”), “As Manhas do Povo”, “Na Terra do Melhoral” (que eu tive o prazer de organizar uma segunda edição, em 2013, pela Edital) e “Selassié Kari´oka”, sua última obra.

Entre suas peças de teatro mais importantes, estão “No tempo do Corta-Jaca”, “Mate com limão e cicuta”, “A Araponga, ou Comitê de Vila Maria” (Menção Honrosa do Ministério da Educação e Cultura, em 1976), “Sonho de uma noite de velório” (Prêmio Serviço Nacional de Teatro, em 1975) e “Palavras no Chumbo Derretido” (Prêmio Carlos Carvalho, da Secretaria de Cultura de Porto Alegre, em 2009). 

Odir também atuou em vários jornais de Campo Grande, principalmente nos anos 70 e 80, quando o bairro abrigava periódicos importantes, como o “Jornal de Campo Grande”, “Patropi”, “Ponto de Vista”, “Zona Oeste Social” e “O Amarelinho”, este o único que permaneceu. Em suas colunas, adotava, muitas vezes, o pseudônimo D´Orc, uma referência às iniciais do seu nome, Odir Ramos da Costa. Fui apresentado a ele em 1994 pelo professor Moacyr Bastos, a quem havia conhecido pouco tempo antes no programa “Sem Censura”, da TVE, atual TV Brasil, ele como debatedor do programa e eu como estagiário de jornalismo. Muitos anos depois, reencontrei Odir, eu também já como escritor, e batemos ótimos papos sobre literatura, iniciando uma relação de amizade. Mas foi lá naquele distante 1994 que também conheci Ney Ayala, outro nome importante da cultura do bairro, que me presenteou com o livro “Memórias da Zona Oeste”, uma pequena obra publicada pelo Centro Cultural Moacyr Bastos em 1992, reunindo 4 crônicas de Ney Ayala e uma de Odir Ramos, “Considerações sobre a arte de gostar de bondes”. Nela, ele fazia um relato histórico e irreverente sobre os bondes de Campo Grande, que duraram até 1967, e convidava o leitor a embarcar “numa lenta viagem por entre a verde Guaratiba, em plena terça de carnaval, num veículo dócil e pachorrento, balançando com o nosso embalo, sambando junto com a turma, ofertando lataria à vontade para a batucada”.

Era a primeira vez que eu, recém-formado em jornalismo pela UFRJ, e ainda bem distante da rica vida cultural de Campo Grande, conhecia escritores do bairro. E mal podia imaginar naquilo um sinal de que, muitos anos depois, iria participar ativamente dos movimentos culturais da região e estudar a História deste lugar, inclusive dos bondes que deixaram tantas saudades em muitos de seus moradores.

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