[Artigo] O leilão da Fazenda das Capoeiras

O leilão da Fazenda das Capoeiras

Por André Luis Mansur

A Estrada das Capoeiras é uma das mais importantes de Campo Grande, localizada entre as estradas do Mendanha e da Caroba. Fica onde era a fazenda de mesmo nome, erguida no período colonial e que, no final do século XIX, era colocada à venda, em leilão, com suas “vastas terras, medindo 590 hectares, Casa de Vivenda, Casa para Administrador, outras benfeitorias, Capella etc”. (A Notícia, 9/3/1897)

Assim, o leilão da Fazenda das Capoeiras era anunciado para o dia 10 de março de 1897, ao meio-dia, em um Armazém na Rua do Rosário, 78, no Centro do Rio de Janeiro. O leilão era autorizado pelo “Exm. Sr. Dr. juiz” da liquidação forçada da Companhia Centro Industrial Nacional, sua última proprietária.

O anúncio chamava a atenção para as grandes e excelentes terras pra qualquer cultivo, localizadas na então Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande. “Chama-se a atenção dos Srs. pretendentes para esta boa fazenda, situada em local muito produtivo, salubérrimo e com facilidade de condução pela Estrada de Ferro central, ramal de Santa Cruz, sendo a fazenda em frente à estação de Campo Grande”. (A Notícia, 9/3/1897)

O possível comprador iria garantir o lance no leilão com um sinal de 20% ao neto do arrematante. Apesar de tantas qualidades, a fazenda não foi arrematada no leilão do dia 10 de março, pois dois meses depois o mesmo anúncio foi reproduzido, anunciando o leilão para o dia 1º de junho.

A Fazenda das Capoeiras talvez tenha sido a maior de todas que surgiram na Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande, freguesia que ia da altura do atual bairro de Campo Grande até a área do atual bairro de Realengo. A fazenda ocupava boa parte das sesmarias de Luiz de Abreu, doadas a ele pela Coroa Portuguesa em 1588, e também as de Manuel de Abreu, doadas a ele em 1603. Outras terras que também fizeram parte da Fazenda das Capoeiras foram as sesmarias recebidas por Feliciano Coelho Cão e João Rodrigues Faleiro.

A história desta fazenda também está ligada a um casal dos mais poderosos das freguesias rurais cariocas: João Pereira Lemos e Anna Maria de Jesus, donos do Engenho de Sapopemba, que ficava na área hoje ocupada por bairros como Deodoro, Marechal Hermes e Guadalupe, entre outros. O casal iria ampliar seu patrimônio fundiário adquirindo e aumentando a área que iria fazer parte da Fazenda das Capoeiras.   

Em 2 de maio de 1770, quando já era viúva, Anna Maria de Jesus doou para seu filho, Francisco Pereira Lemos, como dote para a sua ordenação sacerdotal, uma área de aproximadamente mil metros quadrados da fazenda, na parte conhecida como Campinho. “Após ordenado, Francisco Pereira Lemos veio a exercer seu ofício de sacerdote na Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande. Morava ele na Fazenda do Campinho, nome pelo qual viriam a ficar conhecidas as terras que lhe foram doadas por sua mãe. A Fazenda do Campinho foi a primeira fazenda ´derivada´ da Fazenda das Capoeiras”. (Rumo ao Campo Grande por trilhas e caminhos, de José Nazareth de Souza Fróes e Odaléa Ranauro Enseñat Gelabert)

No final daquele século, o inventário das fazendas da Sapopemba e das Capoeiras, as duas de propriedade de Anna Maria de Jesus, mostram a opulência desta proprietária de terras na Zona Rural do Rio de Janeiro. Só a Fazenda das Capoeiras “possuía 3.690 braças de testada ´com seus respectivos sertoins´, 112 escravos, engenho, capela, casa de farinha, casa de fazer anil, gado em menor quantidade e também muitos partidos de cana. Havia ainda um conjunto de casas alugadas na Rua do Ouvidor e pequenos sítios plantados com cana”.

Capitães de bibocas: casamentos e compadrios construindo redes sociais originais nos sertões cariocas (Capela de Sapopemba, freguesia de Irajá, Rio de Janeiro, Brasil, século XVIII, de Manoel da Silva Pedroza)

Não há indícios de que o segundo leilão teve êxito, o certo é que a área da Fazenda das Capoeiras acabaria sendo fragmentada, gerando ruas, logradouros e localidades, além da estrada que leva o seu nome e que serve de testemunho desta importante propriedade erguida nos tempos coloniais.

* Crédito da imagem: A Notícia 9/3/1897

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