[Artigo] Carnavais do passado em Campo Grande

Por André Luis Mansur

O Carnaval sempre fez parte da vida cultural e social de Campo Grande. No passado, eram os ranchos e sociedades carnavalescas que faziam a festa da população, numa vida ainda marcada pela forte presença da agricultura no bairro. Nas duas fotos com o título “O Carnaval em Campo Grande”, publicadas nesta coluna, vemos os foliões no tradicional Clube dos Aliados, que ainda é bem presente na vida do bairro. Na foto da direita, temos um registro do baile infantil, no domingo de carnaval, e à esquerda o baile dos adultos, na segunda-feira. As duas fotos foram publicadas na Revista da Semana, edição de 14 de março de 1936.

Vários outros clubes, que ficaram no passado, também abriam as portas para as festas de Carnaval, como a Sociedade dos Fenianos e o Grêmio Esportivo Freire Allemão, que no nome homenageava o grande botânico do século XIX, filho ilustre de Campo Grande. No Carnaval de 1933, o Grêmio realizou um grande baile no dia 18 de fevereiro, abrindo as festas, e com eleição de Lille Ferreira como Rainha do Carnaval. “O querido e prestigioso Grêmio de Campo Grande organizou, para comemorar a data de entrada do Deus Momo, um mirabolante baile à fantasia, que teve um transcurso brilhantíssimo”. (A Nação, 24/2/1933)       

Naquele mesmo ano, o jornal “A Nação” reclamava da concentração dos eventos carnavalescos no Centro da cidade pela prefeitura, o que fazia com que poucas agremiações carnavalescas dos bairros mais distantes do Centro participassem da folia patrocinada pelo Poder Público. “É fora de dúvida que um bloco ou rancho instalado nas Laranjeiras ou Fábrica das Chitas locomovem-se com muito mais facilidade dos que os que têm as suas sedes em Encantando, Irajá, Bangu, Campo Grande ou Santa Cruz” (A Nação, 28/2/1933). Segundo o jornal, enquanto uns chegam organizados e perfeitos nas suas alegorias, outros chegam amarfanhados e amarrotados, “só podendo concorrer, em verdade, aos prêmios de harmonia, porque só as vozes puderam ser preservadas” (A Nação, 28/2/1933)       

A ideia que o jornal dava é que a festa fosse dividida em setores, para democratizar o acesso da população ao Carnaval oficial. “Teríamos, por exemplo, um setor em Ramos, na Leopoldina, outro no Méier, outro em Madureira e outro em Bangu, que é o maior centro recreativista do Ramal de Santa Cruz” (A Nação, 28/2/1933).       

De qualquer forma, uma das características do Carnaval nos subúrbios, durante boa parte do século XX, era o Concurso de Coretos, uma atividade que a prefeitura poderia voltar a promover, já que mobilizava bastante a população dos bairros e divulgava o trabalhos dos artistas locais. Na foto, publicada no Carnaval de 1936 na “Revista da Semana”, vemos um Coreto premiado, trabalho de Daniel Diniz da Fonseca, que foi o fundados da União Rural das Belas Artes, instituição que incentivava e divulgava o trabalhos dos artistas plásticos da região, principalmente em Campo Grande e na Pedra de Guaratiba, bairro que mantém, até hoje, uma tradição de ateliês de grandes pintores e artistas plásticos, como Mestre Saul.   

Na reportagem da foto aqui divulgada, aparecem outros coretos, como o de Bento Ribeiro, mas o de Campo Grande foi o que ganhou o primeiro prêmio naquele ano, seguido dos coretos de Pavuna e Madureira. “A princípio era um só: o de Madureira, tradição do Carnaval carioca. Com os anos, a ideia avolumou-se e hoje se veem por inúmeras das nossas estações suburbanas coretos altaneiros e bonitos, uns traduzindo riqueza, outros mais modestos, todos, porém, dignos de nota” (Revista da Semana, 7 de março de 1936).


 FONTES CONSULTADAS:

Revista da Semana – Edições de 7/3/1936 e 14/3/1936

A Nação – Edições de 24/2/1933 e 28/2/1933

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no email
Compartilhar no print

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *