[Artigo] União ciclística de Campo Grande

Por André Luis Mansur

Apesar de ser um bairro quase sem ciclovias, Campo Grande tem um grande número de ciclistas, sejam aqueles que andam sozinhos, como eu, ou como os que andam em grupos, uma tradição que já vem de muitas décadas, desde quando o bairro fazia parte da Zona Rural do Rio de Janeiro.

Na edição de 3 de janeiro de 1940, o jornal “A Noite” dava destaque ao encerramento da temporada oficial de provas de ciclismo do ano anterior. A corrida, organizada pela União Ciclística de Campo Grande, “teve um transcurso brilhante e reuniu no próspero subúrbio da Central corredores de todos os clubes filiados à Liga Carioca de Ciclismo e Motociclismo”. (A Noite, 3/1/1940)

Segundo o jornal, uma grande multidão compareceu às ruas e avenidas do bairro, aplaudindo os ciclistas, que eram divididos em três categorias. A prova de 3ª categoria reuniu 28 competidores e foi vencida por Alair Fortes, do Sport Club Vasco da Gama, enquanto que Agostinho Magalhães, do Ciclo Suburbano, venceu a prova da 2ª categoria. Já a prova de 1ª categoria, a chamada Prova de Honra, foi vencida, para delírio do público, por Antônio Teixeira da Fonseca, o “Lavoura”, da União Ciclística de Campo Grande.

Naquele mesmo mês, os ciclistas de Campo Grande iriam participar, fora do bairro, da I Volta da Cidade Jardim Higienópolis, prova que iria abrir a temporada oficial de ciclismo de 1940, patrocinada pela Imobiliária Higienópolis. No percurso, os ciclistas iriam percorrer vias importantes do subúrbio carioca, como a Avenida Suburbana (atual Dom Hélder Câmara) e Estrada Velha da Pavuna.

A maior prova da época era a Volta do Distrito Federal, que percorria toda a cidade do Rio de Janeiro, na época capital do país. Foi disputada pela primeira vez em 21 de junho de 1935, com um percurso de mais de 200 Km. Ela era aberta também a ciclistas que não participassem de clubes de ciclismo e seu percurso começou no obelisco da Avenida Rio Branco, seguindo daí por bairros e vias como São Cristóvão, Penha, Vigário Geral, Estrada Rio-Petrópolis, Caxias, São João de Meriti, Anchieta, Ricardo de Albuquerque etc. Por Campo Grande, ela passava por estradas como Pedregoso, Mendanha, Campinho, Capoeiras, Rio-São Paulo, entre outras, seguindo depois para Santa Cruz, Guaratiba, passando pela Serra da Grota Funda, Baixada de Jacarepaguá, até chegar à Zona Sul e encerrar o percurso em seu ponto de partida, o obelisco.       

É claro que a União Ciclística de Campo Grande sempre participava deste que era o maior evento ciclístico da cidade. O já citado “Lavoura”, por exemplo, foi o grande vencedor da V Volta Ciclística do Distrito Federal, em julho de 1940, quando estabeleceu novo recorde da prova, com 7 horas, 15 minutos e 22 segundos. A corrida começou na Praça Paris, na Glória, com 51 participantes, às 8 horas da manhã. Em Guaratiba, Lavoura sofreu um acidente e teve que substituir a bicicleta. “Lavoura prossegue e  junta-se ao pelotão, que, num belo gesto esportivo, havia reduzido a marcha como que esperando o seu companheiro”. (Sport Ilustrado, 4/7/1940)  

Na Vila Militar, houve um acidente, quando o motorista do carro de apoio do Cyclo Suburbano Club, para não atropelar um ciclista, desviou-se e caiu numa vala. Os seis passageiros sofreram apenas leves escoriações.   

A União Ciclística de Campo Grande encerrou suas atividades na década de 50.

Legenda da foto:
Antônio Teixeira da Fonseca (União Ciclística de Campo Grande), vencedor dos campeonatos cariocas de 1938 e 1939, dos “100 kilômetros contra relógio”, em tempo record, e da “V Volta do Distrito Federal”, também em tempo record.

Fontes consultadas:
A Noite, 13/6/1935A Noite, 17/1/1940
Sport Ilustrado, 4/7/1940

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