Por André Luis Mansur
O trem sempre foi um dos veículos mais utilizados pelo morador de Campo Grande. Em torno da estação, inaugurada em 2 de dezembro de 1878 (tema de outra coluna que escrevi aqui neste espaço), o bairro ampliou sua rede de comércio e serviços. O transporte ferroviário, no entanto, sempre deixou a desejar, com muitos atrasos, problemas técnicos, sinalização antiquada e superlotação. Mas poderia ter sido diferente, caso investimentos tivessem sido feitos, entre eles o do Plano Diretor de 1983, proposto pela Rede Ferroviária Federal (RFFSA), que administrava os trens na época. Um projeto que, sem dúvida, iria facilitar muito a vida dos passageiros não só de Campo Grande, mas de toda a região metropolitana do Rio de Janeiro.
Pelo Plano Diretor, a rede ganharia mais seis anéis ferroviários, com início dos trabalhos em 1985 e concluído 25 anos depois, em 2010. A cronologia era a seguinte:
– A partir de 1985: eletrificação do trecho Santa Cruz-Itaguaí, que ainda existia com locomotivas a diesel, mas que seria encerrado no final dos anos 80. Alguns grupos lutam hoje pela reativação deste ramal, embora muitas construções já tenham sido feitas em cima do leito ferroviário;
– A partir de 1987: expansão do tronco de Belford Roxo para Miguel Couto (eletrificado);
– A partir de 1990: eletrificação da terceira linha entre São Mateus e Engenheiro Pedreira e eletrificação do trecho entre Campos Elíseos e Ambaí;
– A partir de 1995: ligação de Austin, em Nova Iguaçu, com Santa Cruz, um ramal que funcionou do final da década de 20 até a década de 40 do século passado, mas que depois foi desativado. Ainda existem ruínas de algumas estações e da malha ferroviária;
– A partir de 2000: eletrificação do trecho entre Japeri e Itaguaí. Este trecho é utilizado hoje para transporte de carga dos trens que vão e voltam do Porto de Sepetiba;
– A partir de 2010: ligação entre Santa Cruz e Pedra de Guaratiba.
Como se vê, era um projeto excelente, mas que infelizmente nunca saiu do papel. O último item, de ligação de Santa Cruz com Sepetiba e Pedra de Guaratiba, seria de imensa utilidade para a população destes bairros.
Algumas décadas antes de este projeto ter sido idealizado, um outro projeto, de grande importância para o sistema ferroviário do Rio de Janeiro, este sim, foi implementado, com a presença do presidente Getúlio Vargas: a eletrificação do trecho entre Campo Grande e Santa Cruz, em 14 de outubro de 1945, duas semanas antes da deposição de Getúlio do poder:
“O exmo. Sr. Presidente Vargas foi homenageado com um churrasco na Escola Técnica de Santa Cruz, tendo compartilhado do mesmo, além do diretor da Central e seus auxiliares, o prefeito Henrique Dodsworth e seus secretários. O roteiro da festividade, organizado carinhosamente pelo Dep. De Turismo da Central, que tem à frente o espírito dinâmico do dr. Astolfo Serra, correspondeu a todos os desejos”. (Vida Doméstica, Novembro de 1945).
Na época, a rede ferroviária da região metropolitana do Rio de Janeiro era administrada pela EFCB (Estrada de Ferro Central do Brasil). Separados por quase 40 anos, dois momentos distintos do sistema ferroviário do Rio de Janeiro: em 1945, expansão e otimismo, já em 1983, a “letra morta” de um projeto que só gerou decepção e frustração.
Legendas das imagens:
– Acervo da RFFSA
– Vida Doméstica (Novembro de 1945)