[Artigo] Trens elétricos chegam a Campo Grande

Por André Luis Mansur

Campo Grande viveu um dia de festa em junho de 1945, quando o presidente Getúlio Vargas esteve no bairro para inaugurar a eletrificação dos trens entre as estações de Bangu e Campo Grande. Na época, a capital do Brasil era o Rio de Janeiro e a sede do poder federal ficava no Palácio do Catete. Como não poderia deixar de ser, Getúlio e sua comitiva foram para Campo Grande de trem. Era o dia 3 de junho de 1945.

Acompanhado de seu ajudante de ordens, o major Bruno Fraga Ribeiro, o presidente chegou à estação D. Pedro II às 10 horas, sendo recebido pelo diretor da Central do Brasil, coronel Lima Figueiredo, além de ministros, outras autoridades, jornalistas, engenheiros e funcionários da estrada de ferro. O trem saiu às 10h30 e levou uma hora para chegar a Campo Grande. “Em todo o percurso, notadamente em Engenho de Dentro, Cascadura, Deodoro, Santíssimo, Senador Camará e Senador Vasconcelos, o povo que afluiu àquelas estações prestou ao presidente Getúlio Vargas vivas manifestações de simpatia” (A Noite, 4/6/1945).

A estação de Campo Grande e a área em frente, entre as ruas Coronel Agostinho e Augusto Vasconcelos, estavam embandeiradas e com um palanque armado, onde Getúlio fez o seu discurso. Os prédios comerciais e as residências ostentavam frases de saudação ao presidente. Assim que ele chegou, uma locomotiva começou a puxar 14 máquinas a vapor com a inscrição: “Durante 67 anos cumprimos o nosso dever”. É importante ressaltar que a estação de Campo Grande foi fundada em 1878. “Para se ter uma ideia da importância da nova linha eletrificada, inaugurada ontem, basta dizer que ela permitirá a dispensa de nada menos de quatorze locomotivas e um grupo de 220 homens, que passarão a servir em outro setor da Central do Brasil. Também o gasto de carvão fica diminuído de quarenta toneladas, diariamente, o que constitui notável economia” (A Noite, 4/6/1945).

O processo de eletrificação durou três fases. A primeira, antes de 1930, contou com um empréstimo externo de 25 milhões de dólares, mas que acabou sendo utilizado em outros fins. Depois de 1930, já no governo Getúlio Vargas, começou, de fato, o trabalho, mas a Central do Brasil não tinha autonomia. Os recursos orçamentários e os trabalhos foram entregues a uma empresa estrangeira. Depois, já com a autonomia da estrada de ferro, foram feitos os serviços de ampliação e desenvolvimento, com recursos da própria empresa. A última fase, da eletrificação, foi feita com engenheiros e operários brasileiros e matéria prima do país.

Após a inauguração, Getúlio, “acompanhado de autoridades, seguiu, a pé, entre aclamações do povo, para a sede do Clube dos Aliados, em Campo Grande” (A Noite, 4/6/1945). O almoço foi servido às 13h no clube, que ficava na rua Viúva Dantas e hoje tem sua sede na Estrada do Mendanha. O presidente do Aliados, Manoel Caldeira de Alvarenga, fez um discurso saudando o presidente. “Além dessa, outra realização de vulto aparecerá, em breve, pois já está sendo atacada a eletrificação da Linha Auxiliar, sem contar o prolongamento do trecho que unirá Campo Grande a Santa Cruz” (A Noite, 4/6/1945).       

Logo após, Getúlio e sua comitiva voltaram de trem para o Centro do Rio. Alguns meses depois, em 29 de outubro, o presidente seria deposto do poder e só voltaria à presidência ao ganhar a eleição de 1950.

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no email
Compartilhar no print

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *