[Artigo] O Lactário de Campo Grande

O Lactário de Campo Grande

Por André Luis Mansur

Na edição de 29 de julho de 1933, o jornal “A Nação” publicou uma reportagem descrevendo a visita de algumas autoridades ao Lactário de Campo Grande. “uma das fundações philanthropicas do sr. José Savarese, cujo gesto solidário está confiado ao dr. Figueira, chefe do Posto de Saúde, e ao dr. Christophoro, um jovem e dedicado médico”. José Savarese era Chefe do Serviço de Lactários na Zona Rural. O Rio de Janeiro teve lactários em Bangu, Anchieta, Penha, Dona Clara e outros bairros pela cidade. Eram, inclusive, realizados concursos de robustez infantil com as crianças atendidas pelos lactários.

O Lactário, que ocupava um pavilhão nos fundos do edifício do Centro de Saúde Pública de Campo Grande (o Hospital Rocha Faria só seria construído em 1940), atendia 500 crianças (e suas mães) e era mantido com doações organizadas pela Associação de Damas Protetoras da Infância, fundada em 4 de junho de 1932, em cerimônia ocorrida no antigo Cine Theatro Progresso, que ficava na rua Campo Grande, com a presença de Samuel Uchoa, diretor do Saneamento Rural, e de Belisário Pena, diretor da Saúde Pública.

Entre os colaboradores do Lactário, estava o Coronel Cassiano Caxias dos Santos, “abastado fazendeiro naquelle bairro”, que fornecia diariamente 50 litros de leite para as crianças, servidos em garrafinhas brancas, guardadas em pequenas cestas metálicas. “A alimentação prescripta vae calculada para o dia. Todos os cuidados hygienicos são adoptados”. As crianças do Lactário também recebiam atendimento médico do dr. Christophoro. “Vimos ali senhoras que vinham de Guaratiba, do Guandu e outros pontos afastados, receber o leite que estava reanimando, muitas vezes, uma criança, já sem esperança de salvamento”.

Segundo o jornal, a caravana levava, além do repórter, a senhora Olívia Herdy Alves Cabral Peixoto, esposa do coronel Francisco Cabral Peixoto, do general Dias de Mesquita e dos senhores Pedro Carvalho, além de José Saravese. A viagem, feita de carro, é descrita de forma bucólica, principalmente quando eles passam por Piraquara, Realengo e Bangu, chegando a Campo Grande, “arrabalde que é bem a photographia das nossas pequenas cidades do interior”. 

O repórter afirma que a Zona Rural do Rio de Janeiro era “a parte encantadora de nossa capital, em que se sente a tranquilidade e belleza da vida rústica”. O Rio de Janeiro era, então, a capital do Brasil. Também são descritas “casinhas alvejantes romperem de entre laranjaes fartos ou das palmas longas das bananeiras”. Nesta época, Campo Grande, assim como outros bairros da Zona Rural, era grande grande produtor de laranja.

Ainda naquele ano, alguns meses antes, outro periódico importante, a revista “A Semana”, na edição de 28 de janeiro, também fez uma reportagem sobre os lactários da cidade, fazendo uma previsão otimista e entusiasmada: “D. Clara, Penha, Bangu, Anchieta, Campo Grande, Ilha do Governador – são hoje cellulas primordiaes de uma formidável Instituição, que honra a nossa cultura e os nossos sentimentos, e que se estenderá victoriosamente por toda parte, por todos os recantos, por todo o Brasil, como a mais positiva, a mais segura, a mais perfeita organização social destes últimos tempos”. 

* Legenda da foto do jornal “A Nação”:
Em cima: após a distribuição do leite no Lactário de Campo Grande. Em baixo: a caravana de que participou A NAÇÃO entre as crianças atendidas.
* Mantive a grafia original dos textos dos jornais, ainda com a ortografia da época.
* Ainda não descobri o endereço do local exato onde funcionava o Lactário de Campo Grande.

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