[Artigo] De “pharmacias” a engenhos: Campo Grande em 1891

O “Almanak Laemmert” foi uma das publicações de maior prestígio na Corte do Rio de Janeiro durante o período imperial, chegando até os dias da República, após 1889. Os irmãos Laemmert, que eram alemães, também foram donos, no Rio de Janeiro, da Livraria Universal e da Tipografia Laeemmert. O Almanak, cujo nome oficial era “Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial” do Rio de Janeiro, é uma excelente fonte de pesquisa sobre a vida cotidiana do Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX, e em uma edição do ano de 1891, há uma série de informações interessantes sobre a vida na então Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande.

O território da freguesia era bem maior do que o do atual bairro de Campo Grande, fazendo os seguintes limites: ao norte com as freguesias de São João de Meriti e Marapicu; ao sul com as freguesias de Guaratiba e Jacarepaguá; ao leste, com a de Irajá; e pelo oeste com o Curato da Fazenda de Santa Cruz. Apesar desta imensa área, a população era de apenas 9.757 habitantes.

Além da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Desterro, cujo templo anterior havia sido destruído por um incêndio, em 1º de outubro de 1882, mas que uma nova igreja já havia sido construída, a freguesia possuía mais cinco capelas: Nossa Senhora da Conceição, em Realengo; Nossa Senhora da Lapa, no Viegas; Nossa Senhora do Loreto, no Lameirão; Santo Antônio, na fazenda do capitão Luiz Fernandes Barata, e a de Sant´Anna, na fazenda das Capoeiras, na propriedade de Marcolino da Costa Borges. O vigário da Matriz, o padre Belisário dos Santos, o principal responsável pela construção do novo templo, morreu naquele mesmo ano de 1891.

Uma das principais festas do então “Arraial de Campo Grande”, que é como se chamava a área atual do centro do bairro, era a festa em homenagem à padroeira Nossa Senhora do Desterro, que atraía gente de toda a freguesia, conforme demonstraria o jornal “A Imprensa”, oito anos depois: “Por esse motivo, partirá da Central, às 9 horas e 40 minutos da manhã, um trem especial, que fará parada em todas as estações intermediárias, para receber passageiros, regressando às 12 horas e 30 minutos”. (“A Imprensa, 1º de outubro de 1899)

Na relação dos “serviços de instrução pública”, encontramos o nome de Francisco Alves da Silva Castilho, o “Professor Castilho”, que dá nome a uma importante rua do centro do bairro hoje. Já no serviço de correios, os malotes com as correspondências chegavam do Centro do Rio de Janeiro de trem, de manhã, e voltavam com as correspondências à tarde. Eram poucos os funcionários, como a “Gazeta da Tarde” demonstrara, alguns anos antes: “Foram nomeados Antônio Lourenço Mendes, agente do correio de Inhoaíba, Manuel Antunes Aguiar, agente do correio de Palmares, e Sebastião Magé da Costa Dantas, agente do correio do Lameirão, todos na freguesia de Campo Grande”. (“Gazeta da Tarde”, 18 de abril de 1884).Era uma época de muitos sítios e fazendas, como os engenhos de rapadura (Izidro Pereira Duarte, no Palmares; Família Cardoso de Paiva, na Fazenda Cabuçu, e Raphael Antônio da Rocha, em Paciência, entre outros) e de aguardente (Francisco Pereira da Rocha, no Rio da Prata do Mendanha; Joaquim José da Silva Moraes, no Guandu do Sena, e José Clemente Marques, em Sete Riachos, entre outros). Mas o comércio também já marcava forte presença, com uma grande relação de comerciantes dos mais variados produtos.

E se hoje esbarramos em uma farmácia a cada esquina, isso em toda a cidade do Rio de Janeiro, na época esta região era atendida por apenas três “Pharmacias” (ainda com “ph”): a de Concordio Ferreira dos Santos Reis, no Largo da Matriz; Francisco Dionysio Teixeira, em Realengo, e Gonçalo Braz dos Santos, na Estrada de Santo Antônio. É importante ressaltar que estas “pharmacias” também faziam atendimentos médicos, já que não havia hospitais ainda na região e os casos mais graves eram levados à Santa Casa da Misericórdia, no centro do Rio de Janeiro, em uma viagem de 40 quilômetros, o que muitas vezes era fatal para o paciente.

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