[Artigo] A matriz de Campo Grande

Por André Luis Mansur

 A Igreja de Nossa Senhora do Desterro é o principal monumento histórico do bairro de Campo Grande. Localizada na rua Amaral Costa, no centro do bairro, em uma elevação da praça Dom João Esberard, ela tem sua origem no século XVIII, mais precisamente no ano de 1673, quando o fazendeiro Manuel de Barcelos Domingues mandou construir um templo religioso invocando Nossa Senhora do Desterro.

Mas Barcelos Domingues, que é nome de uma rua no centro de Campo Grande (grafada “Domingos”, ao invés de “Domingues”), não mandou construir a igreja no local onde ela está hoje e, sim, na área onde fica o bairro de Bangu, que naquele distante século fazia parte do imenso território conhecido como “o Campo Grande”, que ia da área do atual bairro de Campo Grande até a altura de Realengo. Esse nome ainda figura em documentos do início do século XX, por exemplo, quando se referem ao “Realengo do Campo Grande”.

O ano de 1673 marca, assim, o início da Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande, desvinculando a região da Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá, embora esta data seja contestada por pesquisadores, que consideram o início da freguesia e da paróquia em 1757 de forma definitiva. “Há uma grande divergência sobre quando essa região se tornou propriamente uma Freguesia. Até mesmo as fontes primárias divergem quanto a esse parecer. É possível encontrar registros eclesiásticos que mencionam essa Matriz como sendo apenas uma Capela Curada e outros que a mencionam como uma Paróquia ou Freguesia”. (Fazenda Bangu – A Joia do Sertão Carioca, de Paulo Vitor Braga da Silva e Benevenuto Rovere Neto)

A igreja só será construída em seu local definitivo em 1808, mesmo ano da chegada da Família Real Portuguesa ao Rio de Janeiro. O príncipe-regente D. João vai passar muito por ela, em suas viagens à sede da Fazenda de Santa Cruz, transformada por ele em Palácio de Veraneio, seguindo pela antiga Estrada Real de Santa Cruz, via pública mais importante do Rio de Janeiro durante muito tempo, da qual a atual Avenida Cesário de Melo, bem perto da igreja, mantém parte do seu antigo percurso.

A construção de uma outra igreja já se fazia necessária havia muito tempo. Foi o que atestou José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo, o Monsenhor Pizarro, religioso que, no final do século XVIII, visitou as freguesias do Bispado das províncias do Rio de Janeiro e fez muitas observações preciosas sobre a vida nessas comunidades, reunidas na coleção de livros Memórias históricas do Rio de Janeiro, da qual extraio, do volume 3, esta observação sobre o velho templo mandado construir por Barcelos Domingues: “Decadente por extremo esse templo curtíssimo, clamava há muitos anos contra os habitantes de seu termo, para que de novo levantassem outro com decência e dignidade conveniente ao uso e ministério paroquial”.

A nova igreja, então, foi construída em 1808, mas foi destruída em 1882 por um incêndio, sendo erguido outro templo, no mesmo local, seis anos depois, trabalho liderado pelo padre Belisário dos Santos. Alguns anos depois da reconstrução, a festa da padroeira continuava a ser um dos principais eventos da região: “Celebrar-se-á hoje, na matriz da freguesia de Campo Grande, brilhante festa em homenagem à sua padroeira. Por esse motivo partirá da Central às 9 horas e 40 minutos da manhã um trem especial, que fará parada em todas as estações intermediárias, para receber passageiros, regressando às 12 hs e 20 minutos. A fim de fazer a polícia na localidade, para aí partiram uma força da Brigada Policial, composta de 20 praças, sob o comando de um subalterno, e uma outra, do 5 º Regimento de Artilharia, composta de 15 praças, também comandada por subalterno”. (A Imprensa, 1 º de outubro de 1899)

Ao longo do século XX, a Matriz de Nossa Senhora do Desterro teria uma participação ativa na vida dos moradores do bairro, como acontece até hoje – em novembro, por exemplo, ela recebe a festa de aniversário do bairro. A Igreja também abriga um Museu de Arte Sacra e Popular e permanece como o maior símbolo histórico do bairro, vista de vários pontos do centro de Campo Grande. 

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